ALBUQUERQUE MENDES: ⎯ NUNCA FIZ UMA EXPOSIÇÃO DE DESENHOS

postInauguração dia 12 Dezembro 16h / até 13 Fevereiro 2016

Curadoria: Paula Pinto

A exposição consta de algumas dezenas de cadernos de desenho de Albuquerque Mendes, produzidos num espaço temporal de vinte cinco anos, mas nunca antes mostrados. O material em questão tem sido executado num registo quase diário e com um carácter privado. Os cadernos acompanharam o autor por diferentes geografias e relacionam-se com as suas vivências socio-culturais, servindo como registo rápido dos seus pensamentos, da leitura de jornais diários e de livros de poesia, do encontro com grafismos publicitários e palavras soltas. Enquanto desenhos, estes registos são espaço de acontecimentos e apontamentos do mundo que carregamos, pertencendo ao domínio criativo e inconsciente. A sua sequência quase nunca é coerente; como no quotidiano, as referências que os desenhos atravessam e testemunham são díspares, apesar de se constituírem como rotinas.

Albuquerque Mendes traz para o campo artístico as fantasias do mundo real e confronta o domínio sensível com o inteligível: nos desenhos dos cadernos encontram-se muitas personagens, os seres andróginos que povoam as suas pinturas, as cenas eróticas em que se deixam encontrar e os pequenos apontamentos que descontextualizados, os ridicularizam e nos trazem de volta ao entorno banal. Habitando numa fronteira fina entre o glamour e a decadência, os cadernos funcionam simultaneamente como memória diária e como máquina de esquecimento, onde o tempo acumula os traços do seu curso irreversível. À medida que os cadernos são preenchidos, vão sendo guardados nas gavetas do atelier.

A dificuldade do manuseamento de cadernos pelo público num espaço expositivo e a sua natureza privada, limitam a sua exposição. Alguns cadernos foram contudo integralmente digitalizados e montados em diaporamas, para que os seus desenhos e sequências possam ser visualizados de forma fugaz. O objectivo desta exposição é o de trazer o espectador até ao desenho, revelando-lhe a existência de um mundo que está por abrir. Esta exposição é uma manifestação de práticas que sem chegarem ao museu, antes cruzam tempos históricos e geografias, referências eruditas e ordinárias, vivências e inquietudes, a sorte e o destino. Desafiando a margem do erro, Albuquerque Mendes usará ainda as paredes da galeria para realizar um desenho-performance: o desenho em ato.

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