Escorbuto /21 julho 21h30, 22 julho 16h e 21h30

Um capitão iluminado.
Um capelão alcoólico.
Um marinheiro sorumbático.
Um bombardeiro fodilhão.
Um calafate meio-morto.
Um grumete tenrinho.
Um despenseiro vítima de bullying.
Nestes preparos foi a nau de Santa Cristina para Índia, corria o ano da graça de mil cinco e quarenta e seis.

Co-produção: Associação Arte à Parte, TAGV (Teatro Académico de Gil Vicente), TEUC (Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra) e UC (Universidade de Coimbra)

Dramaturgia e Encenação: Ricardo Vaz Trindade

Inspirado num texto original de Pedro Monteiro e Rodrigo Monteiro
Música Original (interpretada ao vivo): Ricardo Pinto
Interpretação: Carlota Rebelo, Filipe Madeira, Joana Santos, Maria Inês Pinela, Mariana Ferreira, Marta Félix e Nádia Iracema
Produção Executiva: Adélia Pinto, Maria Inês Pinela e Marta Félix

Apresentações:
Dia 21 julho às 21:30h
Dia 22 julho às 16:00h e 21:30h

Entrada: 5€

Notas de Encenação

“O mar, a mim, não me diz nada.”
2006, Anónimo

O “Caralho” é ainda hoje utilizado, na gíria náutica, para descrever o cesto da gávea no mastro grande, o ponto de observação mais alto – e mais desconfortável – do navio. Ir “para o Caralho” não é só uma ordem para um expediente naval, mas também uma represália implícita a um qualquer marinheiro a precisar de um correctivo na sua conduta.

Não precisamos de generalizar esta parábola: não é difícil imaginar que a vida a bordo de um navio – num ambiente dominado pela testosterona – é um constante arrufo de impropérios, injúrias e rituais de chacota. Se a isto adicionarmos a precariedade e a lógica do “a qualquer custo” das quase mil armadas portuguesas que fizeram a Carreira da Índia entre os séculos XV e XVII, temos qualquer coisa como um mau filme de terror sem efeitos especiais, uma espécie de parente pobre e feio dos modernos filmes de piratas, cujas memórias e relatos dos eventos mais vulgares fariam corar de vergonha e asco os redactores dos manuais escolares do século XXI.

A doença do Escorbuto, causada pela carência grave de vitamina C, e que atacava sem piedade as tripulações da Idade Média, é a alegoria que escolhemos para sintetizar o lado menos notável dos Descobrimentos, um reverso da moeda carregado de escatologia, abusos, inaptidão técnica, favores políticos e todo o tipo de corruptelas, mas também de coragem e uma crescente fé em Deus (na devida proporção dos perigos a que a empreitada estava sujeita).

“Escorbuto” põe em cena a história trashico-marítima de sete tripulantes a caminho da Índia, no espaço claustrofóbico da “espera” (o piso abaixo do convés) da nau de Sta. Cristina, em 1546, sob o reinado de D. João III.
O texto, inspirado num original homónimo de Pedro Monteiro e Rodrigo Monteiro, foi construído a partir de improvisos com os actores, num regime de colaboração criativa. É portanto uma ficção subjectiva e subjugada ao absurdo e ao grotesco, duas premissas iniciais do trabalho. Distancia-se das euforias glorificadoras e conformismos históricos, realidades muitas vezes maquilhadas pela pena “cosmética” dos escrivães de bordo e concentra-se nas relações humanas e na tipificação das personagens, das suas rotinas e das suas idiossincrasias. Tentamos repôr nas entrelinhas da História a massa anónima dos milhares de homens e mulheres que também tinham as suas utopias privadas, muito diferentes daquelas que moveram os heróis famosos dos Descobrimentos.

Para além de tudo isto, “Escorbuto” é uma comédia absurda. Mais uma, aliás, que depois de “Deus – uma peça” – uma produção de 2010 deste mesmo grupo de actores (sobretudo de actrizes) – confirma que esta troupe tem jeitinho para fazer rir. O nosso projecto seguinte, para completar a trilogia, é fazer uma encenação de oito horas do Guerra e Paz do Tolstói, num registo de imobilidade e sublimação do nada. Estão todos convidados.

Ricardo Vaz Trindade
Julho de 2012

Ficha Técnica e Artística

Assistência de Encenação
Margarida Vilaça

Cenografia
Pedro Brígida | Ricardo Vaz Trindade

Figurinos e Adereços
Ricardo Vaz Trindade | TEUC

Operação de Som
Filipa Lima

Desenho de Luz
Ana Fernandes | Ricardo Vaz Trindade

Operação de Luz
Ana Fernandes

Maquilhagem
Mariana Roxo

Voz-off
Rita Moreira

Cartaz
Alexandre Esgaio

Apoios
A CABRA | Bonifrates | CITAC | Escola da Noite | MAFIA | República Baco | RUC | TAGV | UC | viv’Arte |

Agradecimentos
Augusto Monteiro, Paulo Lima, Rafela Bidarra, Ricardo Seiça Salgado, Xénon Cruz

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