Flores e outras coisas que nascem no campo

Exposição de Ryan Lopes, José Pacheco e Gabe Duarte

Na sala de ensaios, de 28 de Dezembro 2023 a 04 de Janeiro 2024

Flores e outras coisas que nascem no campo, dá relevo ao elemento dicotómico do crescimento no “campo”. Sujeitos, muitas vezes, a uma condição de alteridade, es artistas recorrem ao espaço sem preconceito utilizando os recursos que nele habitam. Desta forma, é lhes permitido criar uma relação intrínseca entre as suas práticas e a sua espacialidade, realçando também a experiência individidual de crescer na cidade vimaranense.

O “campo” é toda a representação figurativa do crescimento des artistas condicionade pela sua geografia, educação e vivências que informam a maneira como absorvem tudo o que lhes rodeia, e consequentemente interage com os diferentes processos artísticos.

O espaço expositivo será uma mistura de trabalhos que já existem, apropriados e reintrepratados no contexto da exposição, e obras que tem vindo a ser realizados para esta apresentação.

Um reconciliar do tempo e do espaço, numa proposta expositiva que vai do cerne da memória à capacidade especulativa da imaginação.

A abertura da exposição vai contar com a perfomance du artista João Araújo. Esta exprimentação sonora parte do questionamento de conceções de naturalidade, do rural, do campo; apontando a dimensão manufaturada destes conceitos e a sua instrumentalização, usando para tal o contraste do processamento digital e o som “natural”.

Ryan Lopes (Vitória, Espírito Santo/Guimarães, 2002).

O trabalho artístico de Ryan Lopes possui uma abordagem fluída, tanto nas suas formas como no seu conteúdo. O artista explora temas diversos, desde a família, nostalgia e memórias até a cor preta, a religião e o privilégio social. A sua abordagem é caracterizada por uma espontaneidade palpável, refletindo-se num trabalho que joga com a liberdade e a brincadeira. Os desenhos são descontraídos e vibrantes, assemelhando-se à expressão de uma criança. Em certos momentos, eles esvaem-se para outros meios, transformando-se em esculturas, instalações ou vídeos.

O trabalho transmite um leve senso de humor, procurando gerar intriga e instigar perguntas. O objetivo é que a arte emane uma dualidade doce-amarga, que seja duradoura, reconectando os espectadores a um sentimento infantil com as suas emoções cruas e não manipuladas. Ryan quer desconstruir e fantasiar sobre novas formas de expressão, criando espaços que permitam uma redescoberta da capacidade de brincar coletivamente.

José Pacheco (Guimarães, 2002).

O seu trabalho nasce da necessidade de contar histórias. O seu trabalho é, frequentemente, autobiográfico, explorando a intersecção que existe entre as tradições e costumes portugueses e uma existência queer. Algumas das influências que marcam o seu desenvolvimento são a precariedade do trabalho do campo, o sumptuosidade do ritual religioso e a marca industrial deixada pela produção têxtil, que acabam por contrastar com uma obsessão pelas influências da cultura pop e o seu drama “shakespeariano”.

Abordando temas que se relacionam com a memória de crescer num ambiente que se divide entre o industrial e o rural, o artista procura criar objetos artísticos que utilizam a colagem, e a mistura de objetos não convencionais com materiais artísticos, como forma de dar ao trabalho uma linha narrativa pessoalmente significativa. O artista faz confluir várias histórias e momentos na sua arte, criando uma linguagem visual que existe entre o campo figurativo e uma abstração visceral. Esta relação pendular permite-lhe explorar mais profundamente as capacidades expressivas e emocionais que fazem parte do sua história pessoal.

Gabe Duarte (Guimarães, 2002).

A prática artística de Gabe Duarte é conduzida pela observação de objetos que foram perdidos e esquecidos, e as ações anónimas que os deixaram nesse estado. Este interesse origina-se na crença de que existe uma conexão pessoal e inabalável com os objetos que nos rodeiam. Estamos constantemente a acrescentar informações à história coletiva dos materiais que nos rodeiam. Ao prestar uma atenção afável a objectos do dia-a-dia e às circunstâncias que definem estes encontros, Gabe acredita que somos capazes de definir novos indicadores de memória, conhecimento e, por relação, de identidade.

Ultimamente, estas representações têm-se alegado para incluir referências a texto e imagens encontradas em plataformas online, com um alto valo pessoal, mas que socialmente são vistas como possuindo pouco valor intelectual. O seu trabalho tem-se tornado cada vez mais dependente de investigação cooperativa, dando forma e imagem a registos visuais descartados da comunidade e da coletividade social. A sua inspiração são as estruturas, formas e padrões que pertencem a estas situações e locais sociais, físicos ou mentalmente delineados.

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